Com 78 anos, depois de uma vida nesta profissão, maiato cumpriu o seu último dia de trabalho a 31 de julho de 2021. O NOTÍCIAS MAIA esteve lá.
Abílio Leite do Espírito Santo tem 78 anos e foi barbeiro praticamente toda a vida. Aprendeu o ofício do seu pai e, desde a inauguração da Barbearia Espírito Santo, em 1961, na Maia, foi sempre aqui que trabalhou. Agora, 60 anos depois dessa abertura, chegou o momento de parar.
O NOTÍCIAS MAIA falou com Abílio naquele que foi o seu penúltimo dia de trabalho. Entre duas marcações, com o tempo sempre contado, Abílio contou-nos um pouco daquela que foi a sua história nesta profissão.
A Barbearia Espírito Santo foi inaugurada a 13 de maio de 1961 na Avenida Visconde de Barreiros pelo seu pai, Albino do Espírito Santo. Agora, 60 anos depois, Abílio vai largar o ofício e passar o negócio.
O dia 31 de julho de 2021 marcou aquele que foi o último dia de Abílio Leite do Espírito Santo enquanto barbeiro, uma arte que exerceu toda a vida. Conta-nos que, com 11 anos, já observava o trabalho do pai. “Com 12 anos comecei a fazer algumas barbas, em cima do banco para chegar ao cliente. Depois, comecei a cortar cabelos aos poucos”, recorda.
Nasceu na Maia, ainda na Freguesia de Barreiros, e lembra-se bem da Praça do Município quando ainda era um jardim. “Era bem bonita a Maia”, enuncia.
Abílio esteve presente na vida da Barbearia Espírito Santo desde o primeiro dia. À data da inauguração tinha apenas 18 anos, mas contava já a experiência do trabalho na antiga barbearia do pai, ainda na casa dos seus avós. “Éramos só os dois e duas cadeiras”, lembra.
Depois, com o tempo, foram vindo os clientes, e alguns deles ainda por cá passam. É o caso de António dos Santos Ferreira Pinto, um dos primeiros clientes da barbearia, que encontrámos nesta entrevista. Com 80 anos feitos há poucos dias, António garantiu que nunca trocou esta barbearia por causa de quem lá trabalha. “São pessoas excelentes, além de bons profissionais”, afirma.
“O sofá ainda é o mesmo”
Depois de 60 anos de portas abertas, e já sem o seu fundador, a Barbearia Espírito Santo foi sofrendo renovações, mas há ainda peças que cá estão desde o primeiro dia.
É o caso de um sofá que, apesar de já ter mudado de cor algumas vezes, permanece por lá. Assim como duas cadeiras que, se falassem, poderiam contar histórias de 1961. Histórias até contadas pelos antigos presidentes de Câmara, Jorge Catarino e José Vieira de Carvalho, os únicos autarcas que por lá passavam.
Uma despedida forçada de uma profissão que nunca deixou de gostar
Abílio do Espírito Santo conta-nos que está reformado há alguns anos mas que só agora vai mesmo parar. Tem duas próteses nas ancas desde 2017 e, estar em pé tantas horas, começou a ser cada vez mais doloroso. “Tenho mesmo de parar, primeiro está a minha saúde”, diz.
Questionado sobre o porquê de ter ingressado nesta profissão, Abílio explica que sempre gostou do ofício e que, apesar da exigência do pai quase o ter feito desistir, foi ficando.
“Ainda gosto muito disto, principalmente do convívio com os clientes e das amizades que se criam”, diz-nos, mas, “ao fim de 60 anos de trabalho aqui na Avenida 61 [Avenida Visconde de Barreiros, número 61], tenho de parar”.
Sobre se depois de 60 anos ainda há alguma coisa da profissão que desconheça, diz-nos que “aprendem-se sempre coisas novas, ainda que a nossa cliente seja mais clássica”.
Depois de Abílio ter cumprido o seu último dia nesta profissão, a Barbearia vai encerrar para obras e voltar com novas caras. Não sabemos se o sofá vai ficar nem se ali continuará uma barbearia, mas, com certeza, ficará a lembrança do trabalho de um pai e de um filho, durante 60 anos, no número 61 da Avenida.