1.- Em tempos de vírus que a todas e todos afeta e em que a cidade não se está a tornar sustentável, um programa eleitoral de uma força política da Maia – eleições internas desse partido -, vem referir publicamente as palavras “cidade inteligente” e “desenvolvimento sustentável”. Mas sobre isso nada diz, quais são os passos, qual a trajetória e de como vai tornar a Maia uma cidade inteligente e a sua sustentável. Gostaríamos e, certamente a população da Maia também, de saber quais as linhas fundamentais para nos tornarmos “inteligentes” e “sustentáveis”, dando corpo a uma “saudadibilidade” que nos tornaria a uma cidade sem vírus. Também não desejaria um conteúdo programático e científico sobre a cidade, mas pelo menos o resultado da discussão e reflexão que esse grupo de cidadãos – ganhador, diga-se, daquelas eleições -, levou a cabo, e que a não existir torna-se uma tolice e bazófia de palavras apanhadas aqui e acolá, que não terão qualquer sentido prático para os cidadãos da Maia. Se possuíssemos essa reflexão, numa abertura a toda a sociedade, talvez encontrássemos caminhos alternativos, para os mesmos objetivos que, também, a força política que governa hoje a câmara prossegue. É que afirmar e reafirmar, sem mais, “cidade inteligente”, “desenvolvimento sustentável” ou a “saudabilidade”, são palavras sem conteúdo e, portanto, não exequíveis.
2.- Não sei se os agora animadores dessa força política alguma vez se debruçaram sobre as infindas questões que decidiram implementar no seu programa, e as consequências de tal e se têm bem presentes os pontos de situação da Maia e a implementação já de algumas ferramentas primordiais. Antes de mais existe impossibilidade de obter “uma cidade inteligente” e o “desenvolvimento sustentável” na cidade da Maia – eu penso que os autores do programa queriam dizer concelho da Maia, e é assim disso que escrevo -, sem a união dos intervenientes, dos “parceiros”, em todos os sentidos exógenos e endógenos concernentes. Nos primeiros este Grande Porto, os municípios vizinhos, e nos segundos, além das pessoas o comércio, a indústria e o setor social. Sem tal, sem o desenho destes parceiros, não é possível chegar a nenhum resultado. Já agora gostaríamos de saber qual a perspetiva sobre este assunto, dos autores do manifesto.
3.- Em trabalho académico que realizei sobre como tornar as cidades felizes, as pessoas felizes, consubstanciei que os primeiros passos provêm do cumprimento normativo – que é voluntário –, e do cumprimento legislativo. O ponto de partida será sempre a organização da boa governança, através da normatividade da qualidade, ambiente, segurança e saúde, responsabilidade social, gestão de pessoas – não de recursos humanos! – e outras normas até atingir a excelência empresarial e porque não um Concelho Certificado. Infelizmente a Câmara Municipal da Maia implementou – e bem! -, um sistema da qualidade, mas ficou por aí. Este, da certificação, é o caminho a seguir, para se subir ao cimo da pirâmide que é o Desenvolvimento Sustentável que, como é evidente, deverá marcar presença paralela a todas as ações atrás descritas.
4.- O Desenvolvimento Sustentável desenvolve-se tendo em consideração as suas quatro vertentes ecológicas: ambiental, económica, social e cultural, e nenhuma está acima das outras. Por isso mesmo o exercício da implementação dos sistemas de boa governança é um passo decisivo. Mas também nada se fará se não nos situarmos nas práticas culturais e no seu desenvolvimento, questão fulcral. Em outro estudo académico comprovei isso, tendo por base o setor do metal em Portugal, em que alguns capítulos foram publicados em revistas internacionais de referência. A Cultura é o nó górdio para passarmos a uma cidade inteligente. Mas a cultura enquanto “conhecimento dos ambientes, das suas histórias, ideias, questões, tradições, crenças, debates, por que a cultura é vital para os relacionamentos entre as pessoas e os meios. Mas mais que isso a “cultura” é um diálogo crítico, por que socializa, tece uma relação com outras pessoas e culturas, como educação da diversidade, tolerância, pluralismo, justiça e igualdade. A cultura promove a relação de ideias, valores e opiniões, dado que é vida, na sua componente inter-relacional entre pessoas e comunidade. Comportamentos, crenças, conhecimentos e costumes, tradições. A cultura parte da inteligência humana, como o sentir, pensar e agir, podendo assumir um conjunto de formas artísticas das pessoas e das organizações (Mcdougall, 2015; Matusov & Marjanovic-Shane, 2017; Nakajima, 2017; Armindo, Joaquim, 2019)”.
5.- Tudo isto é que não é esclarecido no documento a que me referi.
Joaquim Armindo