Lembra-se das Noites do Chantre? O NOTÍCIAS MAIA falou a falar com o impulsionador deste fenómeno que levou dezenas de pessoas a cantar às janelas durante o confinamento.
No dia 14 de março milhares de portugueses foram às varandas e às janelas para aplaudir os profissionais de saúde por todo o esforço e dedicação nesta crise pandémica. E, durante as quase 50 noites seguintes, o Chantre não parou de o fazer, evoluindo para um autêntico festival de música entre vizinhos. Depois disso, um movimento de solidariedade.
Guilherme Rebelo, agora com 17 anos, foi o principal responsável por este movimento que juntou diariamente dezenas de pessoas às janelas para cantar e aplaudir durante o primeiro confinamento.
Um ano depois, o NOTÍCIAS MAIA voltou a falar com o Guilherme para recordar este fenómeno. Sobre voltar a fazer uma destas Noites do Chantre, o jovem diz que “gostava muito” de o conseguir.
Notícias Maia (NM): Em março Portugal saiu às varandas e às janelas para aplaudir os profissionais de saúde e, desde então, o Chantre não parou. Como é que surgiu esta ideia de fazer as Noites do Chantre?
Guilherme Rebelo (GR): Foi assim mesmo. Houve um movimento nas redes sociais para o país todo vir às suas janelas, uma vez que não podíamos sair de casa, aplaudir os profissionais de saúde. E eu, a minha mãe, o meu pai e a minha prima, apesar de não sermos dados a essas coisas, também fomos. Nós achávamos que ali na zona ninguém o ia fazer. Mas, pelo contrário, houve muita gente a aderir e nos dias seguintes também. Num outro dia, já a contar com as palmas, pusemos uma coluna pequenina de fora, eu peguei no megafone e comecei a interagir um bocadinho com as pessoas.
NM: E como é que passam das palmas para um autêntico festival? Porque vocês a dada altura até tinham um alinhamento de canções.
GR: Sim, nós começámos com essa coluna e megafone, nós vimos as coisas a evoluírem e as pessoas a aderir muito. Comprámos uma coluna para o som dar mais alto mas não foi suficiente porque mesmo assim depois ouvíamos pessoas a dizer que não se ouvia. As pessoas queriam mesmo ouvir. Até que um vizinho, o Marco Andrade, nos emprestou um sistema de som que permitiu que o som se propagasse mais. A adesão era tanta que começamos a pôr um alinhamento nas portas e nos elevadores. Criamos a página no Instagram e, a partir daí, foi subir, subir, até que chegámos aos 1000 seguidores muito rapidamente.
NM: Tens noção da proporção que tomou e da quantidade de pessoas que ia para as janelas cantar com vocês?
GR: Sim, eu fui vendo os vídeos e fui apreciando um bocadinho o impacto que aquilo estava a ter. Não só no Chantre mas também em vários pontos da Maia, da zona norte, da zona sul, da zona centro e além-fronteiras. Nós tínhamos muita gente a ver-nos de Bruxelas e do Brasil por exemplo. E também tínhamos profissionais de saúde que nos viam em hospitais. Aliás, foi graças ao Notícias Maia também que o evento se tornou mais impactante e espalhou-se mais. Foi quando nos convidaram para uma emissão especial no The Voice Portugal. Mas, lá está, nunca eu teria continuado com a iniciativa sem os vizinhos, era impensável.
NM: E depois de quase 50 noites, as Noites do Chantre chegam ao fim. As pessoas ficaram tristes, diziam-te para continuares?
GR: Ficaram muito tristes, a começar por nós. Umas das promessas que eu fiz na última noite foi que esporadicamente haveria uma ou duas noites do Chantre. Nós acreditamos que tudo tem um fim. Estávamos a entrar num processo de desconfinamento e achávamos que tínhamos que retomar alguma normalidade, mas custou-nos muito terminar. Inicialmente as noites tinham 10 minutos, depois passaram a 20, depois a 30. Na última noite nós fizemos 80 minutos e fazíamos muitos mais. Foi uma noite apoteótica onde eu até desci do prédio e mostrei uma faixa que dizia “Obrigado Chantre”.
NM: Depois de terminarem as Noites do Chantre, acabaram por ganhar um cariz solidário. Tens noção de quantas pessoas conseguiram ajudar com esse movimento de solidariedade entre vizinhos?
GR: Essa parte ficou mais entregue à minha mãe, porque entretanto eu comecei com as aulas. Nós não aceitávamos dinheiro e os vizinhos davam bens, traziam sacos, cabazes. Nós ajudámos pelo menos onze famílias. Ajudámos e só paramos de ajudar quando elas ganharam alguma estabilidade e já não precisavam urgentemente da nossa ajuda. Tivemos muito gosto em ajudar essas famílias e há inúmeras pessoas a quem devemos de agradecer, como o talho Carnes Casal mas principalmente aos vizinhos.
NM: Para terminar, gostavas de voltar a fazer uma destas noites do Chantre, tens essa ideia?
GR: Essa pergunta não me devia de ser feita numa altura de confinamento porque só me dá ideias (risos). Acho que sim, gostava muito e era uma coisa que eu adorava. Nós até fizemos uma noite do Chantre a 23 de maio, foi muito bonito. Notava-se ali uma certa saudade já. Nós fizemos essa noite também como tom de agradecimento a todos os vizinhos que doaram. E atenção que as doações não foram só de vizinhos do Chantre, foram pessoas de outras zonas da Maia, e mesmo de outros concelhos. Mas quanto a fazer outra Noite do Chantre, eu acho que as pessoas, como eu, têm saudades, Portanto vou-me ficar pelo sim, gostava.