Bruna Costa tem 20 anos e começou a tocar e cantar na rua durante a pandemia. Conheça o testemunho desta jovem maiata.
A pandemia de Covid-19 fechou muitas portas e obrigou muitas pessoas a readaptarem-se.
Bruna Costa tem 20 anos e, apesar de jovem, já leva alguns anos a atuar em espaços como bares e restaurantes. Com estes espaços a encerrar, a artista resgatou uma ideia antiga e partiu para as ruas para partilhar a sua música com que por ela passasse. Com o confinamento, quando já não podia atuar na rua, Bruna não desistiu e continuou a espalhar a sua música através das suas redes sociais.
O NOTÍCIAS MAIA foi conhecer esta maiata que viu também as portas dos teatros se fecharem pouco depois de terminar o seu curso de interpretação.
Notícias Maia (NM): Apresentaste-te a nós como atriz, cantora e artista de rua. Como é que era a tua vida antes da pandemia?
Bruna Costa (BC): Antes da pandemia eu tinha acabado muito recentemente o meu curso de interpretação na ACE Escola de Artes, então estava mesmo a começar o meu trabalho profissional enquanto atriz. Antes disso já tinha começado a trabalhar como cantora e compositora, já dava concertos em restaurantes, em bares. Ou seja, no fundo, eu já tinha uma vida profissional bastante ativa mesmo antes de terminar o curso e a pandemia surgiu assim mesmo na altura crucial em que eu me começava a lançar principalmente na área do teatro e do cinema.
NM: Foi por causa da pandemia que começaste a atuar nas ruas, verdade?
BC: Exatamente, foi em finais de maio, após o primeiro confinamento. Já era uma coisa que eu queria fazer há muitos anos e achei que, se calhar, era uma boa oportunidade uma vez que eu não tinha lugares onde podia atuar. Pareceu-me a oportunidade e o timing perfeito.
NM: E tendo em conta que tu és da Maia, atuavas por cá ou ias para outras cidades?
BC: O meu primeiro concerto de sempre foi na Maia, no parque central. Por isso eu acho que isso me marca bastante. Um dos maiores palcos, que eu acho que até foi mesmo o maior, foi nas festas do Bom Despacho. São assim uns marcos muito especiais na minha carreira, se é que eu lhe posso chamar assim, acho que sim. E, portanto, a Maia foi assim o meu ponto de partida e acho que o bom filho volta sempre a casa. Mas também comecei a espalhar-me um bocadinho mais por várias zonas do Porto, principalmente. Mas também para outros pontos do país, já estive em Braga, em Bragança, mesmo fora do país, mas maioritariamente é na zona do Porto.
NM: E qual é a maior dificuldade em atuar na rua? Mesmo com a pandemia.
BC: Eu acho que a maior dificuldade é talvez a falta de apoio que nós temos das entidades superiores para garantir dignidade no nosso trabalho. Acho que há falta de legalização e de alguma coisa que nos suporte. Depois também é complicado porque a imagem que as pessoas têm dos artistas de rua nem sempre é positiva. Nós no fundo estamos a dar arte gratuita à cidade. Mas de resto acho que só tenho coisas boas a tirar mesmo.
NM: E durante esta altura de confinamento acredito que não pudeste manter este trabalho…
BC: Exato. No primeiro confinamento eu ainda não tocava na rua e dependia dos meus concertos em bares, em restaurantes. Nessa altura surgiu-me uma ideia que depois eu transportei também para este segundo confinamento, que foi uma coisa chamada Home Busking. Basicamente comecei a fazer diretos nas minhas redes sociais, todos os sábados durante o mês de abril e maio, para estar um pouquinho mais próxima das pessoas. Muita gente me pedia para fazer isso porque também estavam em casa sem fazer nada e tinham saudades de me ouvir. E eu tinha muitas saudades de tocar e de ter algum tipo de feedback. E para além disso eu também tenho um canal de Youtube já há muitos anos onde vou mantendo o meu trabalho, tanto covers como musicas originais. Então fui-me mantendo ocupada sempre com isso e agora neste segundo confinamento tenho tentado fazer a mesma coisa.
NM: Como é que com 20 anos e a acabar um curso viste o país a parar? Sentiste que as portas estavam todas a fechar de repente?
BC: Foi um misto de emoções. Eu normalmente sou uma pessoa bastante positiva e gosto sempre de acreditar que há solução para tudo. Ou seja, no fundo tiraram-me um bocadinho o chão, por causa da altura em que estávamos. Eu acho que o maior problema foi perceber quanto tempo é que eu vou estar a arranjar soluções e a não ter ajuda.
NM: O que te incomoda mais é mesmo esta incerteza?
BC: Sim, foi mesmo o facto de eu me ter sentido bastante desamparada. Porque a meio de um projeto ser mandada para casa sem saber durante quanto tempo, sem saber se ia ter algum tipo de apoio. Mesmo da parte do Estado, na minha opinião, a própria ministra da Cultura não faz o trabalho que devia de fazer. E isso para nós foi sempre complicado, é esta incerteza.
NM: E agora estás a concurso num festival de música, o BDO Live Festival. Explica-nos em que é que consiste este concurso e como é que foste lá parar e estás nas semifinais.
BC: O BDO é um festival online de música criado no ano passado. A primeira edição foi nos Estados Unidos e o concurso funciona com canções originais. Ou seja, não estão a avaliar o artista, estão a avaliar as composições. Eu soube do concurso através de uns amigos meus e inscrevi-me com duas canções minhas. Uma delas foi selecionada, “A Janela para o Mundo”, e fiquei no top 30. Depois foram havendo várias eliminatórias e os artistas vão sendo selecionados pelo público e pelos jurados para irem passando as fases. E agora estou na semifinal! Fui escolhida com a maioria dos votos do público e estou muito feliz. Agora vamos esperar pelo feedback dos jurados na próxima fase.
NM: Esta canção é composta e escrita por ti?
BC: Sim, foi escrita e composta por mim exatamente no primeiro confinamento, ou seja, mesmo a própria letra da música remete para isso. Eu costumo dizer que a arte é a forma que eu tenho de me expressar, e sinto que é a forma onde eu consigo ser mais genuína naquilo que penso e naquilo que digo. Essa música surgiu exatamente como uma reflexão onde, de repente, fomos todos obrigados a estar em casa por uma coisa que nem conseguimos ver. Afinal não somos tão importantes nem tão grandes como achamos. Há uma coisa que de repente nos obriga a todos a parar e, se calhar, nós devíamos repensar que há outras coisas que também nos deviam obrigar a parar, a pensar e a unirmo-nos.
NM: Foi de certa forma uma reflexão que transportaste para um concurso e agora até podes ganhar!
BC: Sim, espero que sim, vamos ver. Sempre que entro nas coisas é com o intuito de dar o meu melhor. Eu acho que a arte não deve ser competição e se é competição que seja comigo mesma. O meu objetivo ao ter entrado neste festival foi levar a minha música a mais pessoas, foi tentar que o meu nome também chegasse mais longe. Acho que isso é que é importante, é ir passando a palavra e saber que neste momento já tive mais de 6000 pessoas a ouvir uma música minha, é extraordinário mesmo.
NM: E, para terminar, como esperas o futuro? Quais são os teus planos para um futuro mais próximo?
BC: Eu espero poder voltar à rua muito brevemente, sinto muitas saudades. Espero também ter os palcos de volta, tanto no teatro como na música. E o que é que eu espero? Se calhar não falando tão diretamente no meu trabalho, espero que as pessoas todas continuem a pensar melhor no que andam aqui a fazer e no que é que podem continuar a fazer para fazermos do mundo um lugar um bocadinho mais agradável para se viver.