A jovem maiata percebeu que havia falta de apoio ao nível da estimulação cognitiva e, agora, dedica-se a ajudar os idosos a “terem um envelhecimento ativo, saudável e, acima de tudo, feliz”.
Nathalya Costa tem 29 anos e, apesar de natural do Brasil, vive na Maia há cerca de cinco anos.
Trabalhou num lar durante alguns anos, onde vivenciou um surto que infetou todos os utentes, e, desde fevereiro de 2021, dedica-se ao seu próprio projeto. Chamou-lhe “a terapia do bem-estar” e nela incluiu serviços como o Apoio Psicológico, o Reiki Terapia e a Reabilitação e Estimulação Cognitiva, Motora e Sensorial.
Em entrevista, conta-nos que foi a sua experiência a trabalhar num lar que a levou a unir a sua formação inicial, a psicologia, ao estímulo cognitivo dos mais velhos.
Questionada sobre como define a sua profissão, a resposta é automática: “Eu ajudo idosos a terem um envelhecimento ativo, saudável e, acima de tudo, feliz”.
Notícias Maia (NM): Antes de começares o teu próprio projeto profissional trabalhavas num lar. Quando é que começaste?
Nathalya Costa (NC): Entrei no final de 2017 e fiquei lá até ao início de 2021. No início de 2020, um bocadinho antes da pandemia, comecei a pensar neste meu projeto de trabalhar por conta própria, de fazer um atendimento direcionado ao público idoso. Eu cheguei a sair do lar mas, passado uns três meses, recebi uma proposta para voltar. Decidi voltar, de coração aberto, e, no final de 2020, foi quando estourou a pandemia e tivemos um surto no lar.
NM: Como é que viveram a pandemia no lar? Atingiu muita gente?
NC: Sim, todos os idosos. Foi um choque muito intenso porque foi na passagem de ano que soubemos que os utentes estavam todos infetados, no dia 31 de dezembro.
NM: Também atingiu os funcionários?
NC: A maioria dos funcionários sim. Só eu e duas colegas é que não ficamos infetadas. Tivemos de entrar em contacto com a Cruz Vermelha para eles fazerem a intervenção e depois com as empresas de trabalho temporário, para garantir o serviço. Foi muito desafiante porque nós, tivemos de dar apoio aos utentes a nível emocional, psicológico e técnico. Era preciso manter a alimentação cuidada, a higiene e desinfeção.
NM: Como é que foi trabalhar nesse período?
NC: Muito desgastante e também muito preocupante. Alguns idosos que não tinham tanta noção da realidade começaram até a apresentar alterações comportamentais. Porque passaram a ficar o dia todo nos quartos.
NM: E esse isolamento acabou por afeta-los…
NC: Sim, muitas alterações a nível emocional e comportamental.
NM: Um profissional que trabalha num lar acaba por ser mais do que alguém que serve as refeições e trata da higiene. E é esse lado da psicologia que também gostas e que impulsionou esse teu projeto.
NC: Sim. Este projeto é um sonho que acabei por desenvolver com o passar do tempo e com o trabalho no lar. Eu pensei que poderia levar o que fazia no lar a mais idosos, principalmente os que estão em casa. A ideia de criar um lar no próprio lar. Porque muito idosos estão em casa e precisam deste tipo de cuidados, principalmente psicológicos, como a estimulação cognitiva, motora e sensorial. E eu vejo que ainda não há muita atenção para essa questão. Mesmo nós, jovens, precisamos de estar o tempo todo a ser estimulados. Muitos familiares acham que é só a higiene e a alimentação. Mas não, eles precisam de atenção, apoio, alguém que os oiça. Uma das técnicas que uso no meu trabalho é a musicoterapia. De uma forma muito simples, estimular.
NM: Essas técnicas vêm da psicologia, a área que te formaste?
NC: Sim, e de outras formações que depois fui tirando. Mas também é muito uma questão pessoal, de saber trabalhar esta estimulação. São vários fatores, mas principalmente o meu interesse.
NM: Como é que tem sido colocar esse sonho em prática?
NC: Tem sido maravilhoso. Sempre que lá vou eles pedem para ficar mais tempo. É uma coisa muito reconfortante, saber que é uma vocação. Além de ser a minha profissão, é algo pessoal que me motiva a cada dia. Mesmo quando não estou lá, estou a pensar em técnicas novas.
NM: Quando te perguntam qual é a tua profissão, como é que a descreves?
NC: Eu ajudo idosos a terem um envelhecimento ativo, saudável e, acima de tudo, feliz.
NM: E tem sido fácil trabalhar nesta altura, entrar na casa das pessoas?
NC: Tenho sempre muita atenção e cuidado com as regras sanitárias. Até porque este é um trabalho de proximidade.
NM: Como é que achas que está esta área em Portugal? Há muitos profissionais a fazer o que tu fazes?
NC: Sinceramente, não vejo muita gente a fazer isto. Principalmente a nível de apoio ao domicílio. Vejo que há os cuidados técnicos, de higiene e fisioterapia, mas a nível de estimulação motora e sensorial, não vejo.