O NOTÍCIAS MAIA falou novamente com Maria José Silva, a proprietária do Lar Estância do Amanhecer, para relembrar a sua decisão e compreender como se vive hoje a pandemia.
Maria José Silva é proprietária do Lar Estância do Amanhecer, em Nogueira da Maia, e, há cerca de um ano, juntamente com parte da sua equipa, ficou a viver na instituição durante 40 dias.
A decisão foi tomada para garantir a “segurança de todos” tendo em conta que foi detetado um caso positivo entre os idosos. Felizmente, em 19 idosos e 12 funcionárias, este foi o único caso positivo de Covid-19, sendo que o utente logo recuperou.
Há um ano, quando o NOTÍCIAS MAIA falou com a Maria José pela primeira vez, a responsável explicou que foi difícil tomar a decisão de ficar tantos dias sem ir a casa, principalmente porque um dos seus filhos é ainda uma criança, mas garantiu que a equipa esteve à altura do desafio e que ninguém recuou em nenhum momento.
Lembra-se desta história? Hoje recordamos aqueles dias e perguntamos sobre o futuro. Sobre já se viver em normalidade, Maria José explica que estão todos mais tranquilos mas que “não baixamos a guarda”.
Notícias Maia (NM): Já passou quase um ano desde a altura em que a Maria José ficou 40 dias a viver no lar do qual é proprietária, como é que lembra esses dias?
Maria José Silva (MJS): Foi uma experiência bastante negativa na altura. Toda aquela ansiedade de não sabermos com o que estávamos a lidar, com o que estávamos a trabalhar. Fez com que esses medos e essas angústias que vivemos nos proporcionassem hoje uma outra forma de ver a pandemia. Evidentemente sempre com muito respeito, mas com outro preparo porque, entretanto, nós fomos procurando a formação. Procurámos preparar a equipa para melhor estar preparada para combater o vírus caso houvesse mais algum caso na instituição.
NM: Depois desse episódio, onde a Maria José e a sua equipa ficaram a viver no lar e a alternarem as esquipas, voltaram a ter casos positivos?
MJS: Não, até hoje não tivemos mais nenhum caso positivo.
NM: Como é que estão as coisas atualmente? Toda a gente já foi vacinada?
MJS: Neste momento está toda a gente vacinada, utentes e funcionários.
NM: Como é que foi a reação dos utentes a saberem que iam ser vacinados, alguém recusou?
MJS: Não, mas antes de nós procedermos à vacinação houve uma sensibilização. Houve uma conversa com os utentes e com os familiares também. Porque inicialmente notamos alguma resistência de alguns familiares. Mas após esta conversa, conseguimos que todos fossem vacinados. Todos os utentes queriam ser vacinados e todos sentiram a esperança que poderia ser a vacinação.
NM: Como é que têm sido os dias no lar, atualmente? Mais calmos agora que já estão vacinados?
MJS: Sim, neste momento estamos mais tranquilos, apesar de não baixarmos a guarda e de mantermos ainda todo o protocolo de segurança. Ainda mantemos o protocolo de contingência mas as pessoas já estão neste momento mais tranquilas e até com muita vontade de sair da instituição. Hoje, inclusive, antes de vir para cá, uma das nossas utentes dizia-me “é hoje que vamos à praia?”.
NM: Como é que espera o futuro? Os utentes já recebem visitas?
MJS: Os nossos utentes sempre receberam visitas porque, no âmbito do protocolo que a Câmara tinha com a Torrestir, forneceram-nos um contentor onde fazíamos as visitas. Chamámos-lhe a nossa Torre dos Afetos. Nós fizemos sempre lá as nossas visitas na parte do verão. Agora com o inverno, temos um alpendre onde permite ter os utentes do lado de dentro da instituição e os familiares do lado de fora. Portanto, conseguimos manter as visitas até agora.
NM: Sente que o facto de os utentes continuarem a ver a família foi importante para levar este ano que tão difícil para todos?
MJS: Foi fundamental. No período em tivemos o primeiro caso e os utentes tiveram que ficar confinados ao quarto, foram 22 dias sem verem os seus familiares, houve consequências. Consequências que exigiram um acompanhamento de técnicos especializados para ajudar determinadas pessoas que não ficaram nada bem a nível psicológico. Logo que terminou esse momento, nós abrimos às visitas e tudo foi voltando ao normal. E foi fundamental mantermos estas visitas para a sanidade mental das pessoas que residem na instituição.
NM: Neste momento, já reina uma certa normalidade no lar?
MJS: Ainda não posso dizer isso! Estamos mais tranquilos e melhor preparados, quer a nível de colaboradores, quer a nível dos próprios residentes. Porque fizemos também uma sensibilização aos próprios residentes, explicar-lhes a etiqueta respiratória, a lavagem das mãos, a importância que isso tem. Nós fizemos imensas sensibilizações na instituição aos utentes e várias formações online, através dos nossos enfermeiros, aos auxiliares e toda a equipa técnica. Nós mantemos ainda todas as normas, por exemplo, sempre que um utente vai ao hospital, quando regressa faz os 14 dias de quarentena. E sempre que há alguém com sintomas, fica no isolamento até recebermos a ajuda e até que a pessoa seja encaminhada para fazer o teste. Acho que, no fundo, manter as normas e ter esta responsabilidade e consciência também nos tem permitindo passar com algum sucesso por esta pandemia.