Ao longo deste período de ajustamento financeiro, tenho sido crítico na tomada de algumas decisões políticas, nas atitudes reformadoras, bem como nalguns cortes que considerei cegos e sem razão aparente que os justificasse.
No entanto, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) fez uma revisão em alta das competências e das politicas tomadas por este governo afirmando que este período de ajustamento com este governo revelou que Portugal resistiu bem à crise no que à Saúde diz respeito.
Passo a transcrever algumas das suas conclusões: “O sistema de saúde português tem respondido bem às pressões financeiras dos últimos anos, equilibrando com êxito as prioridades de consolidação financeira e de melhoria contínua da qualidade “,
Deu como exemplos a seguir indicador no âmbito dos cuidados respiratórios como a asma, ou Doença Pulmonar obstrutiva Crónica, mas também patologias complexas como a Diabetes. Nestas doenças, Portugal apresenta das mais baixas taxas de internamento hospitalar, o que por si só não será estranho a qualidade reconhecida dos cuidados de saúde primários.
Nas lides do coração Portugal tem das mais baixas taxas de acidentes isquémicos. Contudo, aponta como factor menos positivo a grande mortalidade por Acidente Vascular Cerebral (AVC), mais elevada que a média da OCDE, o que não será estranho tendo em conta o desinvestimento nas unidades de AVC… Colhemos o que semeamos!
Mantemos ainda muitas infecções e muitas cesarianas quando comparados com os nossos homónimos Europeus. Algo a rever em comportamentos e mentalidades de actuação nos prestadores de saúde em Portugal.
Curioso é que mesmo considerando uma quebra muita acentuada do financiamento, o relatório mantem que em Portugal se gasta ainda muito mais em relação ao PIB do que nos outros países, embora os gastos “per capita” continuam abaixo da média da OCDE. Significa isto dizer que em Portugal tem rapidamente que implementar estratégias de incremento de PIB, e não continuar a cortar despesa cega em saúde.
Sobre o SNS, considera existir uma “arquitetura robusta na sua qualidade que cobre o país inteiro”.
Recomenda, contudo, e tal como tenho vindo a reflectir persistentemente neste espaço uma “reflexão estratégica” na área dos cuidados de saúde primários, sobretudo no que respeita ao “equilíbrio entre os tradicionais centros de saúde e as unidades de saúde familiar, de forma a garantir que os cuidados de elevada qualidade são acessíveis a toda a população portuguesa”.
O governo reagiu a este relatório da seguinte forma: “Reconhece este relatório que Portugal tem feito um progresso sustentado na melhoria da qualidade de cuidados de saúde conseguindo, no entanto, manter a contenção da despesa”.
Quanto a mim confesso surpresa em algumas das conclusões do relatório, e, sinceramente, esperava um estado mais catastrófico.
Assim sendo, e mesmo não concordando com muitas das decisões estratégicas, a verdade é que estas conclusões me obrigam a “meter a viola no saco” e a congratular o ministério por em tempos difíceis não deixar afundar o barco.
Em tempos difíceis é complicado tomar decisões, mas é ainda mais complicado tomar as decisões certas… Por isso, mesmo reconhecendo a existência de outros caminhos, o Ministério merece por agora a minha vénia.
A terminar uma vénia ao município Maiato. Mantem a presença nos 10 primeiros lugares do ranking na maioria dos itens revelados pelo extenso relatório da OCDE. Nada que surpreenda os maiatos, mas que merece sempre destaque e congratulação.
Ricardo Filipe Oliveira,
Médico;
Doc. Universitário UP;
Lic Neurof. UP;
Mestre Eng. Biomédica FEUP ,
não escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.