Muito recentemente e pelo segundo ano consecutivo, Paulo Borges, mais conhecido por Wuant foi considerado pela revista Forbes Portugal o youtuber mais influente do país.
Os youtubers, como o próprio nome indica, partilham vídeos nos seus canais do Youtube sobre os mais variados temas e ganharam popularidade sobretudo junto nas camadas mais jovens da população. São também os novos influencers, idolatrados por miúdos ainda em fase de formação da sua personalidade. Os pré adolescentes que em gerações anteriores queriam ser médicos, astronautas ou policias, hoje querem ser youtubers, fruto do sucesso, seguidores, patrocínios e vida de celebridade que os mais conhecidos exibem. E isso diz muito sobre os aspirações das gerações actuais.
Vejamos.
O vídeo do youtube mais visto em Portugal em 2019 não foi um videoclip de uma banda ou cantor(a) – no meu histórico seria-, não foi um documentário, uma receita culinária ou outro “how to make” qualquer com efeito útil, nem tão pouco um trailer de um filme. Foi sim uma paródia musical feita por uma youtuber de 20 anos que alterou a letra de um êxito do ano transacto substituindo-a por uma em que pedia que aquele vídeo fosse parar às tendências do Youtube para ter mais seguidores. Antes de mais gosto de acreditar que o facto de o ter gravado parcialmente num corredor de uma escola aos 20 anos esteja relacionado com o público- alvo a que se dirige e não com as “notas tristes” que tira, conforme menciona na letra.
Depois, o facto do vídeo completamente despretensioso ter tido mais de dois milhões de visualizações e ser o mais visto do ano é, não só digno de registo (afinal a rapariga conseguiu o seu intento) como altamente preocupante.
Como também é, ainda que noutro registo, outro vídeo publicado recentemente pelo youtuber Wuant a dar conta aos seus seguidores do término de relacionamento com a sua namorada. Sim porque os youtubers famosos, como qualquer outro influencer que seja apenas isso mesmo, rentabilizam muito a sua vida pessoal.
Primeiro toda a necessidade que julgam existir em explicar as razões do término, porque os seguidores merecem saber (?) e estão preocupados com o futuro do cão que o casal tinha em comum é o espelho do narcisismo e afago do ego inerente a estas novas celebridades. Segundo, resumidamente o youtuber começa por dizer que foi uma decisão conjunta para depois dizer que já estava a pensar em terminar o relacionamento há dois anos, perante o olhar de espanto e choro iminente da, agora, ex-namorada, sentada ao lado, visivelmente transtornada. Todo o resto do vídeo é passado em clima de ligeireza (da parte dele), num discorrer desenfreado de clichés: não ser um término mas um até já, dar um tempo e perceber o que realmente querem do futuro (só faltou o “não és tu sou eu”), ficaram amigos, onde claramente se percebe que o intuito é ele seguir com a vida dele e ela ficar em stand by. Falou ainda no receio de uma gravidez indesejada que os levaria a ficar presos à relação. Ela lá ia concordando com tudo quando era evidente que não concordava com nada (salve-se isso).
O nível de exposição pública a que as pessoas se sujeitam não é novo. O talvez querer causar polémica para se obter mais visualizações também não. É intrínseco às redes sociais. O preocupante aqui é esta humilhação feminina em directo já ter tido mais de um milhão de visualizações, muitas com grande grau de probabilidade vindas de jovens em fase de formação. Jovens esses que os idolatram e querem ser como eles.
É irónico que muitos youtubers digam que nos seus vídeos não falam de questões fracturantes da sociedade (e que realmente importam ser discutidas), com receio de influenciarem os seguidores em temas sensíveis, mas depois já não se preocupam em passar este tipo de exemplos a um público vulnerável, permeável e inexperiente. Principalmente com todas as campanhas de prevenção nas escolas sobre respeito e igualdade, fruto dos números elevados de violência no namoro que infelizmente existem no nosso país.
A influência de um youtuber mede-se pelas visualizações dos vídeos, mas também pelas interacções (comentários, gostos e partilhas) aos conteúdos que partilham. E discutir politica, valores, temas como a eutanásia, despenalização das drogas leves e outros que tais não trazem seguidores. Por isso muitos ganham popularidade (e dinheiro) a fazer conteúdos que na realidade não têm conteúdo nenhum. E ao invés de terem uma ascendência positiva sobre os jovens contribuem antes para a formação de uma geração de alienados.
Angelina Lima
(A autora escreve segundo a antiga ortografia)