O NOTÍCIAS MAIA falou com Xoán Mao, secretário-geral do Eixo Atlântico, para compreender o papel e o contributo da Maia na Associação do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular.
A Associação do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular mudou-se para a Maia, para o edifício da Junta de Freguesia de Águas Santas, e o NOTÍCIAS MAIA foi conhecê-la.
Em entrevista, Xoán Mao, secretário-geral do Eixo Atlântico, explicou os maiores contributos do Eixo para a sociedade neste quase 30 anos de história e ainda revelou aquilo que poderá ser o futuro da Área Metropolitana do Porto.
Sobre a Maia, garantiu que é uma das Câmara mais ativas no Eixo Atlântico, principalmente no âmbito do pensamento estratégico.
Leia a entrevista completa ai secretário-geral daquela que é a terceira maior área urbana da Península Ibérica.
Notícias Maia (NM): De um forma breve, o que é este Eixo Atlântico?
Xoán Mao (XM): O Eixo é um sistema urbano na região Norte de Portugal e Galiza, o mais antigo da Europa, com perto de 30 anos. Tem dois objetivos. O primeiro é fazer lóbi para os investimentos, as infraestruturas e as políticas. O segundo é funcionar como uma agência de desenvolvimento regional que promove os grandes eixos para a competitividade do território: inovação, sustentabilidade, desenvolvimento económico, turismo, digitalização, cultura, desporto, educação, e tudo aquilo que move a economia mas também que foment a participação da sociedade, para que isto não seja só um elemento dos políticos.
NM: É um elemento que quer estar integrado, trabalha com as pessoas e sem burocracias.
XM: Tem dois aspetos. O primeiro, do lóbi, é nitidamente político. E é necessariamente uma parte que tem que contemplar a burocracia, até porque não é possível trabalhar com a Comissão Europeia sem burocracia. Mas tudo o que tem que ver com a cidadania, que para nós é um tema muito importante, aí sim, é tudo mais direto. Mas sempre através das Câmaras, porque o Eixo Atlântico é uma organização das Câmaras.
NM: Estamos a atravessar uma dura pandemia, há estratégias pensadas para a saída desta crise sanitária?
XM: Claro. Nós temos uma estratégia muito clara, que é a que está a impulsionar todas as nossas ações. Primeiro, a cada 10 anos nós elaboramos de uma forma muito participativa uma figura de planeamento estratégico. Há uns quatro anos, elaboramos, com muita participação, inclusive do Paulo Ramalho, a primeira agenda urbana transfronteiriça. Depois elaborámos um plano de ação. E repare que não contratamos uma consultora, escolhemos 30 experts de universidades e vamos sempre dando feedback para que o resultado não seja um livro para ficar na prateleira mas algo no qual as Câmaras se revejam. É óbvio que este plano de ação contempla cento e tal medidas mas depois cada Câmara escolhe as suas.
NM: As que façam mais sentido para a própria cidade…
XM: Sim, implementam aquelas que façam sentido para o seu território. Mas todas as medidas comuns são um espaço de coesão. Estão pensadas na lógica da cooperação e complementaridade e não no confronto de umas com outras, como era antigamente. Estávamos a desenvolvê-las e continuamos a fazê-lo, mas chegou a pandemia. Tivemos de adaptar. Então fizemos algo que nunca tinha sido feito antes na europa, a Conferência de Presidentes. Juntamos os Presidentes das Câmaras a um grupo de experts para adaptar esta agenda. Tudo o que fazemos é sempre de uma perspetiva muito participativa e que envolve muito planeamento e reflexão.
NM: Nestes 30 anos de existência quais têm sido as maiores contribuições deste Eixo? Acredito que sejam várias mas gostava que enumerasse uma ou duas.
XM: Quando me fazem esta pergunta começo sempre pela mesma, por aquilo que significa. De há uns anos para cá, em grande medida graças ao nosso trabalho, já não se houve ninguém na Galiza utilizar o português como insulto e, aqui, o galego como insulto. As anedotas desapareceram. Segundo, já não nos vemos como vizinhos mas sim como um povo em comum a trabalhar no dia-a-dia. Agora falando em resultados concretos, fomos nós que lideramos, a nível europeu, a batalha em apoio do Parlamento de Comissão para acabar com o roaming. A iniciativa foi da Comissão mas nós mobilizamos um apoio social no momento em que o Conselho apoiava as grandes operadoras e se preparava para vetar. Fomos também nós que lideramos a batalha para que não desaparecesse o comboio entre Porto e Vigo.
NM: A sede do Eixo saiu do Porto e veio para a Maia. Quais são as vantagens de estar aqui na Maia?
XM: As vantagens para nós são muitas. A rua onde estávamos no Porto, pelo modelo turístico que ali foi desenvolvido, tornou-se num espaço muito incómodo para escritórios. Em paralelo, a Maia, e isto foi obra do Paulo Ramalho, mostrou uma vontade clara de avançar no âmbito das relações internacionais. Veja, nós acreditamos que daqui a uns anos a Área Metropolitana do Porto funcionará como uma grande cidade. E nessa nova cidade, as cidades atuais já não vão querer ser dormitórios do Porto. Cada cidade vai querer procurar a sua especialização. Valongo vai numa direção, Gaia noutra, Matosinhos será uma das duas cidades gastronómicas. A Maia, por sua vez, está a apostar em dois modelos: o modelo da gastronomia e das relações internacionais. Até porque tem a mais-valia do aeroporto. Portanto, nesta lógica, para nós, tinha todo o sentido vir para cá. As instalações são espetaculares, temos todas as facilidades para uma organização que está a crescer.
NM: Diria então que esse é o ponto forte da Maia nesta organização?
XM: Não, pontos fortes tem muitos mais. A Maia tem uma coisa muito boa. Eu sempre disse que a chave do sucesso era pensar como portugueses e fazer como galegos. O galego é ágil, não é o burocrata mas também não planifica. O português planifica muito bem mas na hora de fazer é muito mais burocrata. A Maia é das cidades que mais valor dá ao planeamento e ao pensamento estratégico. E isto para mim é fulcral. O planeamento estratégico garante o futuro. A Maia está a ter um papel muito ativo no Eixo no âmbito do pensamento estratégico.
NM: É uma referência em alguma área?
XM: A Maia é uma das cidades mais avançadas e que nós utilizamos como referência na área do ambiente. Em todos os projetos temos cidades que são como alavancas, que podem dar apoio às outras. Na área dos resíduos e do ambiente temos duas alavancas, a Maia e a LIPOR. Agora apresentamos uma proposta europeia para uma troca de experiências, através da comissão europeia, com outros países. Levamos a Maia como expert.
NM: Se calhar o sucesso deste Eixo é esse mesmo. Aproveitar o que cada uma das cidades tem a oferecer e passar o testemunho.
XM: Eu tenho um amigo que dizia que “aquele que só se ouve a sim mesmo, está aconselhado por um idiota”. O que procuramos é ouvir todos, também não sabemos tudo. Depois, um dos trabalhos que faço é o de um treinador nacional. Identificar quem são os melhores cérebros em cada área para convidá-los a fazer equipas que pensem para o conjunto das nossas cidades.
NM: Pegado um bocadinho no que disse há pouco, sobre o Eixo trabalhar com Câmaras e com os presidentes. As eleições e as possíveis mudanças de autarcas podem interferir no vosso trabalho?
XM: Não. Primeiro, porque nós planeamos a medio e longo prazo. Depois, porque o trabalho é sempre assegurado pelos funcionários. O que acontece é que, logicamente, se há uma mudança política, esta relação com o Eixo depende da visão que o novo autarca tenha. Se isso acontecer, combinamos simpaticamente a saída da cidade do Eixo, sem problema algum.
NM: Para terminar, que ações tem o Eixo Atlântico pensado para a Maia?
XM: Para já, temos três ações pensadas para a Maia. Aqui mesmo, no Auditório da Freguesia de Águas Santas, no dia 15 de julho, vamos ter umas jornadas abertas que poderão ser acompanhadas via internet e também presencialmente com os lugares limitados. Vamos fazer umas jornadas sobre o turismo pós-covid e os novos fundos europeus para acompanhar esta fase.
Depois, no dia 29 de agosto, pela primeira vez, vamos fazer uma prova de atletismo na Maia. Este evento significa que, durante uma semana, são quase 2 mil jovens de cidades espanholas na cidade da Maia. É um apoio importante ao setor da hotelaria e também funcionará como publicidade para a Maia. Colocaremos a cidade no mapa. Nessa altura creio que ainda se vai inaugurar a praça do Eixo Atlântico na Maia. Já há algum tempo que estamos a tentar fazer isto, para envolver as pessoas. Vamos fazer uma campanha de apoio importante para que os Galegos venham à Maia e aproveitem para passar cá o fim-de-semana e conhecer os restaurantes e lojas. Não é por acaso que a prova acontece num domingo. E porquê fazer isto? Pelo desporto, que é sinónimo de saúde, e pela promoção da cidadania, do turismo e da gastronomia.
E por fim, para já, no próximo ano, em 2022, vamos ter os Jogos do Eixo Atlântico na Maia. Já estavam marcados para este ano mas, pela pandemia, tivemos de adiar. Em princípio contamos com cerca de 2 mil participantes das 37 cidades e duas províncias a participar nos jogos em todas as modalidades, incluindo as pessoas com deficiência que terão modalidades diferentes mas dentro dos mesmos Jogos. O convívio será comum para todos e, durante uma semana, cá na Maia, vai poder praticar-se muito desporto.